As lutas indígenas nas redes sociais. Apresentamos: Tukumã Pataxó*

| by organização Akatu
Colaboradores: Melissa Costa Baptista

Alice Pataxó, Cristian Wariu Tseremey'wa, Maíra Gomez, Tukumã Pataxó e muitos outros. Todos eles têm uma coisa em comum: são influenciadores indígenas. Nas redes sociais, eles querem quebrar com preconceitos contra os povos indígenas, lutar pelos direitos das comunidades indígenas e pela demarcação de terras, e apontar seu lugar na sociedade brasileira.

A organização sem fins lucrativos Akatu, que defende modelos de produção e consumo sustentáveis, fez uma entrevista Tukumã Pataxó em novembro passado. Fala de sua carreira, da importância das redes socias para ele e para as comunidades indígenas, e do papel dos povos indígenas num assunto global: a crise climática.

Tukumã Pataxó tem 23 anos na época da entrevista e está participando de uma conferência sobre conservação florestal e biodiversidade na Academia do Clima em Paris. Nascido na aldeia de Pataxó na Bahia, o jovem indígena é um representante do movimento dos direitos indígenas no Brasil, trabalha como diretor de comunicação da Associação de Jovens Indígenas Pataxó (AJIP) e colabora com a Mídia Índia, um coletivo de publicistas indígenas.

Tukumã é um influenciador digital com mais de 200.000 seguidores na Instagram, onde compartilha a cultura e o conhecimento de seu povo com carisma e bom humor.

Qual é a sua origem e quais são, na sua opinião, as principais contribuições dos povos indígenas na preservação do meio ambiente e no combate à crise climática?

Eu vim da Aldeia Pataxó, Coroa Vermelha, próximo a Porto Seguro (BA). A minha família é composta por lideranças indígenas e consegui aprender muito, pois sempre estive próximo aos caciques, pajés e toda a comunidade. 

O relatório Povos indígenas e comunidades tradicionais e a governança florestal, lançado pela ONU em 2021, revela o cuidado e preservação que nós, povos indígenas, temos: 45% das florestas intactas da bacia amazônica estão em territórios indígenas. Brasil, Bolívia e Colômbia evitaram a emissão de 40 a 60 toneladas de CO2. Esses dados revelam o protagonismo dos povos indígenas e a nossa relação com o meio ambiente. Nós estamos aqui para mostrar o quanto somos importantes para o mundo. 

Como você vê a importância das ações individuais para a preservação do meio ambiente?

Se nós, enquanto cidadãos, não conseguirmos  proteger e cuidar da nossa mãe natureza, o mundo não terá futuro. As temperaturas vão aumentar, teremos mais alagamentos.  Eos primeiros lugares a serem atingidos são as grandes cidades. As pessoas não veem que isso tem relação com a crise climática, com a poluição e com a falta de proteção dos nossos biomas e territórios. Muitas pessoas acreditam que são apenas 1 em 1 milhão mas, a partir das suas ações, você consegue influenciar outras pessoas também. 

O que é consumo consciente pra você? Ele faz parte do dia a dia da sua aldeia? 

Os povos indígenas são seres comunitários: nós vivemos para o coletivo a todo momento. E o consumo consciente sempre esteve presente nas nossas práticas

Nós sempre colhemos o que precisávamos, então se esse fruto está verde e não vai me servir agora, pode servir em breve para outras famílias. Temos áreas de agricultura dentro da floresta fechada e não precisamos desmatar para poder plantar. Conseguimos fornecer alimentos orgânicos dentro e fora das comunidades de uma forma que seja o suficiente para viver. Esse é um consumo para se inspirar! 

A sociedade brasileira ainda tem preconceitos com os povos indígenas? De que forma podemos vencer esses paradigmas? 

Existem muitos preconceitos. Muitos desconhecem a origem dos povos originários no nosso país, mesmo o Brasil sendo composto por territórios indígenas. Hoje, somos apenas 2% da população, mas somos desconhecidos e não temos os nossos direitos respeitados pelos órgãos governamentais. Para desconstruir essa imagem, o primeiro passo é ter uma educação que explique e valorize as culturas tradicionais. As pessoas precisam compreender a importância das comunidades para a construção de um futuro melhor. 

Qual a importância das redes sociais e da sua influência para apoiar e defender o protagonismo dos povos indígenas?

Nós podemos utilizar a internet como uma ferramenta de luta da mesma forma que usamos o nosso arco e flecha.

Eu sempre tive vontade de as pessoas aprenderem comigo e me enxergarem como um protagonista. Eu não me via em novelas, filmes, desenhos e músicas.Me questionava quando criança: “Poxa, não me vejo em lugar nenhum. Podia ter nascido em uma família branca e tudo seria diferente e mais fácil”. Hoje, sei que as crianças indígenas têm referências, porque já contaram pra mim. São tão jovens, mas se vêem no que eu faço e me vêem como inspiração. Isso é gratificante! As pessoas não estão acostumadas a verem, nós, indígenas, no mesmo local de trabalho, ocupando os mesmos espaços e utilizando a mesma tecnologia. 

O que mais te motiva a seguir com esse trabalho? 

O que eu faço tem um motivo e está gerando resultados. Enquanto eu estiver vivo, estarei lutando e levando a voz dos povos indígenas, dizendo o quanto é importante defender e proteger a nossa biodiversidade e demarcar os nossos territórios para conquistarmos mais autonomia alimentar. A nossa luta não começou ontem. Ela vem dos nossos ancestrais e precisamos dar continuidade, mostrar para o mundo o que estamos passando e ter a possibilidade de influenciar e despertar essa vontade nos mais jovens.

Siga o Tukumã Pataxó no Instagram: @tukuma_pataxo

*A entrevista foi realizada pela organização Akatu (https://akatu.org.br/). Versão original: https://akatu.org.br/akatu-entrevista-tukuma-pataxo-e-o-protagonismo-indigena/

Edição: Melissa Costa Baptista